Bisturis e leis: entre segredos, silêncios e sentenças
@alemdadefesamedica


Bisturis e leis: entre segredos, silêncios e sentenças
Medicina e Direito podem parecer mundos distintos, mas tem mais afinidade do que se imagina.
O médico escuta calado diagnósticos sem cura, sustenta o olhar de familiares em luto, volta para casa com a alma marcada por histórias que não cabem no jaleco. O advogado ouve o desespero de quem quer justiça e precisa encontrar caminhos onde a lei, muitas vezes, falha. Somos humanos tentando dar alguma resposta ao sofrimento do outro.
Um é feito de códigos, teses e tribunais; o outro, de exames, diagnósticos e cirurgias. O médico trabalha pela vida. O advogado, pela justiça. E o que é a vida, sem justiça?
O médico guarda o sigilo da saúde, das dores do corpo e da alma que não cabem em laudos. O advogado guarda o sigilo da moral, das culpas, dos medos e dos conflitos que não se expõem em público. Ambos acessam verdades que não se dizem em voz alta. Ambos lidam com segredos. E isso vai além de processos e prontuários.
Quando o médico escuta o paciente, ele não ouve apenas sintomas, mas contextos. Quando o advogado escuta o cliente, não ouve apenas versões, mas histórias de vida. E, ao acolher essas confidências, ambos se tornam guardiões de algo maior do que o problema que lhes é apresentado. Tornam-se detentores da confiança alheia. E a confiança é a base de tudo, porque nem a cura, nem a defesa se fazem sem ela.
Enquanto um usa o estetoscópio, o outro usa a caneta. Um observa os sinais vitais; o outro, os sinais legais. Um intervém no organismo; o outro, no ordenamento jurídico. Um lida com a sentença de um processo; o outro, com a sentença da vida. Mas a essência é a mesma: proteger, orientar e restaurar.
E nesse encontro entre vocações diferentes, mas não opostas, seguimos. Um com o bisturi, outro com o argumento. Ambos com um mesmo propósito. Porque não basta salvar vidas. É preciso protegê-las também fora do hospital.