Erro médico: só a perícia pode dizer
@alemdadefesamedica


Nos últimos anos, a expressão “erro médico” ganhou espaço nos noticiários, nas redes sociais e, infelizmente, nas conversas impulsivas que precedem qualquer apuração técnica. Contudo, é preciso lembrar: a medicina é uma ciência de meios, e não de resultados garantidos. Médicos não têm o controle absoluto sobre a evolução de uma doença, tampouco sobre a resposta do organismo de cada paciente. A diferença entre uma complicação inevitável e uma conduta negligente, imperita ou imprudente, não está nas emoções — está na prova pericial.
A perícia médica é o único instrumento capaz de dizer, com base técnica e científica, se houve desvio da conduta esperada. Ela analisa o caso concreto, os protocolos seguidos, os registros do prontuário, os exames, a cronologia dos fatos e a conduta esperada diante das circunstâncias. Sem ela, toda acusação é precipitada.
A cultura de responsabilização automática, alimentada por julgamentos apressados e repercussão midiática, gera não só insegurança na atuação dos profissionais como também prejudica a própria relação médico-paciente. O medo de ser acusado transforma a medicina em uma atuação defensiva e burocrática, afastando o foco principal: o cuidado centrado no paciente.
Por isso, é fundamental que sociedade, judiciário, imprensa e, especialmente, os Conselhos Profissionais, tenham maturidade para compreender que não se pode chamar de erro o que é, na verdade, um risco inerente à profissão. Médicos não são infalíveis — são humanos trabalhando com ciência, diante da vida real, onde nem sempre há tempo, recursos ou resposta favorável.
Acusar um médico sem perícia é como condenar alguém sem provas. E isso não é justiça.