O silêncio por trás do jaleco

@alemdadefesamedica

Por Caroline Fonseca

Médicos são treinados para salvar vidas. Estão sempre prontos, disponíveis, atentos. Lidam diariamente com dor, pressão, urgência e decisões que carregam o peso da vida ou da morte.

Mas quem cuida de quem cuida?

O estilo de vida médico é, muitas vezes, uma sequência de plantões intermináveis, falta de sono, refeições rápidas (quando existem), sobrecarga emocional, exigência técnica constante e uma ausência crônica de tempo — para si, para a família, para o descanso, para o cuidado próprio.

É comum que o médico saiba identificar os sinais de exaustão em seus pacientes, mas ignore os seus próprios. Afinal, há uma cultura que romantiza a resistência, o cansaço como medalha e o sofrimento como parte do ofício.

Só que esse ritmo cobra caro.

Burnout, ansiedade, depressão, crises de pânico, insônia, falhas de memória, adoecimento físico e emocional. Tudo isso tem nome e tem causa. E precisa ser enfrentado com seriedade.

A saúde do médico não é acessório. É condição essencial para uma boa prática. Nenhum profissional consegue sustentar o cuidado contínuo sem limites claros, sem pausas, sem rede de apoio e, sobretudo, sem o direito de se priorizar.

Cuidar do médico é cuidar da medicina. É zelar pela segurança do atendimento, pela qualidade das decisões clínicas e pela continuidade da vocação.

Por isso, é urgente que hospitais, colegas, instituições e a sociedade como um todo reconheçam: o médico também adoece. E precisa ser acolhido, respeitado e protegido — não apenas quando erra, mas antes que isso aconteça.

Porque antes de ser médico, ele é humano.